Saturday, August 12, 2006

Juquinha


Outro dia eu estava voltando do trabalho para casa, devia ser umas 7:00h da noite, no ônibus 397 (Campo Grande – Tiradentes), no qual sempre acontece alguma situação inusitada. Aqui no Rio é muito comum os motoristas darem carona aos vendedores de doces ambulantes. Com o passar dos anos, cada um deles desenvolveu uma forma especial de vender, para sobressair à concorrência (putz, hoje em dia tem isso até para vender bala!). Costumam elaborar um texto, uma apresentação toda característica, apresentam seus produtos e alguns até distribuem amostras para todos os passageiros. Alguns deles partem para a criatividade, e a coisa acaba se tornando muito interessante.
Neste dia, entrou na condução um desses vendedores, oferecendo seus doces (balas, amendoim, jujuba e assemelhados). Muito bem humorado, caminhou até a frente do “cata-pobre”, se apresentando assim:

- Boa noite, senhoras e senhores. Eu sou um promotor de vendas (risada geral dos passageiros), me chamo “Juquinha” (nome de uma bala “das antigas”, muito famosa, e até hoje bastante consumida - ainda mais risadas...) e hoje vim trazer especialmente para vocês apenas produtos de qualidade (essa frase já é muito utilizada), como por exemplo essas deliciosas balas blá, blá, blá...

E lá foi o cara demonstrar as guloseimas para a galera. Eu havia anteriormente passado no mercado, e sempre que faço isso volto cheia de sacolas. Por isso, sentei-me bem próxima à porta de saída (parte traseira do ônibus), onde costumam se sentar os passageiros mais “bagunceiros”. A aparição do “Juquinha” virou um “evento”. Um engraçadinho, sentado no banco de trás, começou a chamá-lo a toda hora:
- Ô Juquinha, você tem bala Juquinha?
Ao que responde o Juquinha, bem humorado:
- Essa bala eu não vendo não, rsrs...
Um outro:
- Não??? Poxa, os caras já estavam querendo levar Juquinha pra casa...

Risada geral... E o Juquinha, divertindo-se junto.
- Ô Juquinha, quanto custa essa jujuba aí?
- Hoje está em “promoção especial”, são quatro por um Real.
- E esse negócio aí, quanto custa Juquinha?
E o Juquinha dava toda a atenção aos passageiros (que não paravam de sacanear), sempre sorrindo e brincando.
No final das contas, havia feito boas vendas. Quando finalmente desceu da condução, várias pessoas fizeram questão de se despedirem:
- Ué, já vai, Juquinha?
- Ta cedo ainda, Juquinha...
- Faltou a bala Juquinha, hein, Juquinha!
- Tchau, Juquinha!!! Vai com Deus!!!
A condução partiu. Mas o Juquinha não foi esquecido.
- Poxa, eu nem como doce. Só comprei por causa da simpatia do rapaz. Tem que ser assim, né? Isso é que é...
- Eu também não ia comprar. Mas o cara era tão legal que resolvi dar uma força...
- É... a pessoa tem que ser simpática mesmo. Já pensou se aparece um negão de dois metros de altura e fala “se não comprar, vou te enfiar a porrada!!!” ? Hahaha... eu falava: “meu irmão, compro até dez!”! Uahuahuahua...
- Ah, é? Ia ficar com medo do negão, é?
- Ah, fala sério! Vai dizer que se aparece o “Jucão” querendo te enfiar a porrada você não comprava? Kkkkk...

E assim ia se estendendo a conversa. Ri demais, rsrs...

Interessante ver como as pessoas gostam de ser bem tratadas, e valorizam isso. O brasileiro é naturalmente assim... espontâneo, brincalhão, interativo. Para que haja “troca”, é necessário ter bom-humor, boa vontade e jogo-de-cintura.

E o promotor de vendas Juquinha conquistou a clientela, saiu elogiado, deu uma lição de “bom atendimento”, e sem saber ainda ganhou um post neste humilde espaço.


E você? Já passou por alguma situação de bom (ou mau) atendimento?
Ou ainda, já passou por (ou esteve presente em) alguma situação dentro de uma condução?


6 Comments:

Blogger Rodrigo Cesar said...

Esse é o cara. Aliás eu sempre costumo dizer que os ambulantes são os melhores vendedores. São de uma criatividade incomparavel.

8:40 PM  
Blogger Amanda said...

Rodrigo: Nossa, sempre nas conduções que eu pego tem algum, e estão sim, cada vez mais criativos. Tem dia que sai muita risada... Melhor pra nós, um pouquinho de alegria no final do dia é sempre bem-vinda, né!!!

Grande beijo!!!

8:58 PM  
Blogger Quatro mãos said...

A´té aki em BH o povo naum é tão criativo... a mesma ladainha decorada de sempre... aviso pro "juquinha" q ele teria clientela garantida em bh!!!

7:30 AM  
Blogger Jady said...

Se ele passasse por mim gritando "tounainternet, tounainternet" com o feirante com quem topou outro dia comigo, ia perder uns pontos.

Mas, sim, atendimento é tudo. Pra você ver que não é questão de educação, de diploma, nem de nada disso... é simplesmente QUERER.

Beijo em tu

12:59 PM  
Blogger Marilyn said...

*hahahahahahahahahahahaha*
Todos já passaram por situações inusitadas... eu já dei altos furos... mas lembrar de um agora... hum... quando eu lembrar, volto aqui e conto! ;)
Beijo!

7:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

O cara entrou no 383 e ofereceu chup chup de doce de leite. "sabe quanto custa cada um na Americanas?" Um passageiro gritou: 20 centavos. O camelô pensou um pouco, mexeu nos pacotes e refez seu preço na hora: "Pois na minha mão são 10 por um real!" Imagino que ele ia vender 5 por 1 real... Vendeu alguns pacotes, olhou pro trocador e mandou: "Sabe, trocador, tem gente que diz que não compra doce porque dá verme nas crianças. Vê se pode. Criança sem verme não é criança!" A risada foi geral e ele vendeu todos os pacotes.

12:21 PM  

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